Claro que ela não queria fazer aquilo...

Fazia frio, ofereci o casaco enquanto conversávamos no portão: ela me disse o quanto se sentia cansada de caminhar sem chegar a lugar nenhum. Contou também que as coisas não estavam fáceis, mas que ainda sentia que não tinha caído degraus na guerra da selva de pedra. Contou como se sentia de lugar nenhum, como pertence a todos sem ter ninguém de volta. Um desabafo objetivo, como se contasse os minutos em tempo regressivo.

Olhava na minha direção, mas não me via. Parecia focar seus olhos na dança do balanço do parquinho, empurrado pelo vento. Meu coração batia tão forte que por um momento me preocupei se ela estaria ouvindo os batimentos. O dia-a-dia continuava o mesmo, manteve a saga das selfies nas redes sociais. Lembrei de todos os bons momentos enquanto a vi caminhar em direção a sua casa, quase no final da rua.

Houve uma época em que ela emanaria positividade com um sorriso no rosto, ressaltando seus olhos claros e suas covas na bochecha; a luz da lua revelava a sua palidez emocional. Revelou sua exaustão de estar ali, de ser quem é. Deixou no tabuleiro as peças para o jogo do contente, deixou em algum lugar, que não se lembra qual, o sorriso que trazia. Sentiu que algo tinha morrido: por dentro. Deixava que sentíssem saudade de quem ela era, sentia saudade de quem era. Ela não se esforçou o bastante?

É claro que ela não queria fazer aquilo...

Desejo bons ventos!

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