Casa pré - fabricada

Eis que você me olha como quem me convida pra morar na casa que um dia você jogou pelos ares, para reconstituir com cada detalhe de memória nos azulejos. Já que você insiste em ser tudo aquilo que eu procurava, vai saber onde foi parar aquele avião que vi refletir nos seus olhos? No nosso abraço tem mobília, teto, gato, chão e geladeira.

Se acaso você perguntar, por você não há o que não faça, porque te deixa seguro ouvir essas promessas confortáveis. A janela que dá para o jardim, onde deixei a cama de casal com edredom de estrelas, espera a noite chegar enquanto a panela arde no fogão. Nessa nossa troca de olhares moram o quarto, planta, estante e um enfeite de mesa.

Abri a porta de madeira para deixar você entrar, pra subir as escadas espirais que parecem levar ao céu. Os corredores que se parecem com as arestas do pensamento, as paredes que seguram os termômetros nas alturas e os relógios que perderam o controle sobre os ponteiros. Repousa nesse nosso encontro a Lapa, o samba, o sol da manhã e o café na cama.

O sinal está aberto e o dia nublado, reparo no bronze dos seus braços enquanto segura o volante, tão seguro como se soubesse o caminho de casa. 

Da nossa casa!