Respiração

 Eu ouvi dizer que escrever auxilia à elaborar pensamentos. Eu escrevo também para dar à minha atenção, sempre tão acordada, breves momentos de descanso. Eu descanso meus ombros, peço licença ao elefante branco sentado em minhas costas e me deixo confortável. Percebo se a mandíbula está pressionada, forçando um ranger dos dentes, como quem traz consigo a adrenalina de um dia. Desapego porque, sendo de humanas, sou especialista em criar cálculos insolucionáveis. Respira.

Solta... Esse é o motivo pelo qual pode parecer exagero: porque eu sinto toda a intensidade que cabe nas coisas. Parece que o descanso que preciso muitas vezes não se encaixa no meu sono, para se intrometer propositalmente em lugares que não lhe cabe. Com sonhos tão criativos, eu poderia tirar da cartola uma flor e me presentear, no mundo real. Enquanto ouço as batidas do meu coração, aguardo ansiosamente não se sabe o que.

Há algum tempo acordo antes do sol para receber o dia. Trago para a consciência cada centímetro do meu corpo, para certificar que até os dedos dos pés relaxem. Desapego para liberar os meus poros, para ganhar resistência. Descanso meus braços, até o momento em que esteja pronto para, novamente, abraçar o tédio.