Entrando em contato

Liguei pra te contar sobre quantas vezes me entreguei por inteiro pra uma pessoa ou situação, sem que nenhuma parte minha fosse devolvida. Pensar sobre isso me arrebatou e chegou assim, feito uma noite de domingo, por isso decidi discar seu número. Eu não tenho o costume de gritar, mas esse uivo estava guardado há muitos toques de chamada. De repente, eu cansei do personagem e decidi voltar pra coxia antes mesmo que as cortinas se fechassem. Me reservo o direito de não ser eu mesmo em cada reencontro, como se me forçasse a uma evolução espiritual tão cristalina que desse pra ver meu reflexo. 

Não desliga ainda, o recado é simples: não perca tempo tentando medir as horas pelos ponteiros do relógio. O tempo adora um imprevisto, e nem mesmo se considera responsável pela cura de nada: ele apenas abre espaço para que o novo consiga chegar, mas precisa encontrar as janelas abertas. É trabalhoso refazer a conexão consigo, leva tempo e costuma ser dolorido, mas no final, a gente descobre que não tem problema entregar o nosso melhor, e só. Sob o olhar atento do Universo ou de um Poder Superior, dividimos a responsabilidade de como será essa experiência terrena.

Alô? Só queria te perguntar: Qual o valor de uma mente saudável? E o tamanho da sorte de um amor tranquilo? Entendi que pra muitas perguntas, não existe resposta. E isso é uma coisa boa, porque nos propõe viver em reflexão sobre nossa própria existência, sobre o nosso lugar. Por muito tempo, eu acreditava ser extrovertido, mas nunca tive muitos amigos; conhecia muita gente. Hoje, consigo apreciar a intensidade da minha companhia. Eu sei que é muita coisa para ouvir em uma só ligação, mas dá pra repetir a mensagem pela caixa postal. 



Comentários

  1. Que lindo. E profundo. Sentimentos que afloram. Palavras que rasgam o peito. Mas no fim tudo dá certo porque o Universo conspira a favor de quem não conspira contra ninguém

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas