Trinta

Mais que um texto, este é um relato. Ou melhor, uma "tradução" do meu longo e incompreendido grito de alguns dias atrás. Não coube por dentro: mesmo com todas as folhas de caderno preenchidas com tentativas de explicar o que se sentia, longos diálogos solitários, análises e auto-análises. E mesmo quando optava por uma alienação induzida, não cabia. Extravasou então pela garganta; de tão intenso quase arrebentou as cordas vocais, mas certamente rasgou o peito e deixou sair quase todo aquele entulho coberto de poeira. Um viveiro de morcegos traiçoeiros que com suas mordidas deixavam ensanguentado o coração e distorciam alguns de seus entendimentos. Mas o processo não foi fácil, como não é fácil nenhum processo de auto-libertação. Mas nem de longe atingiu a perfeição. Restaram alguns móveis velhos, alguns com valores sentimentais e outros sem, ficaram por fraqueza no primeiro ato de desapego. Apesar de transferidos para o porão, ainda ficaram alguns morcegos, medos e inseguranças... porém somente os essenciais que me permitam continuar sendo humano.

A garganta ainda permanece dolorida, assim como o peito, que precisou ser rasgado e um sorriso de quem entende que nem todos os por quês têm resposta. Uma cara de quem está preparado para encarar os desafios que lhe forem propostos, um caminhar de certeza de estar no caminho certo e um amor por si mesmo que de tão grande consegue entregar ao próximo. Tem também o entendimento de que alguns entulhos são guardados sem o nosso consentimento, são coisas da vida, da psique. Porém, é responsabilidade nossa que arrumemos os cômodos de dentro (relembrando que é um ato voluntário, mas deixo a garantia que é libertador).




E que me aceitem ainda mais humano do que sempre fui.
Que se orgulha de gritar, chorar, sorrir, errar, acertar, desculpar, pedir, retribuir, cair, levantar, amar, ser amado, tentar, temer, ir, não conseguir, tentar de novo, conseguir, agradecer, viver, ser.
SER-HUMANO. 

Desejo boas notícias!