Fumante Passivo

Não se culpe tanto assim, moça. Você fez o que estava além do seu alcance, olhe para seus joelhos ensanguentados pelas repetidas vezes que os colocou no chão na esperança de não ficar sozinha. As únicas coisas compartilhadas na cama eram os orgasmos e o cinzeiro. O que há de prazeroso nas lágrimas que escorrem enquanto a voz do outro lado do telefone grita? Qual o sabor da tortura de ser deixada esperando na hora e lugar depois de um dia inteiro criando expectativas?


Não precisa envergonhar por estar triste, moça. Você acreditou em todas as vezes que te disseram que tudo ficaria bem. O que te aflige é a surpresa de ter sua mão solta à beira do penhasco que mais teme. E daí debaixo, sem forças para escalar, decidiu seguir pelo terreno desconhecido. Continua seguindo o fluxo das águas e desfrutando do canto dos pássaros, porque a nascente e a saída estão logo ali.

Saia dessa cortina de fumaça, moça. A luz que você emana se confunde com a toxicidade do cigarro que ocupa a boca indecisa. Despe tua roupa e teu orgulho. Passa o batom vermelho sem precisar olhar no espelho, acelera o carro sem espiar no retrovisor. Joga no ralo essas pílulas, elabora essas angústias, apaga a luz e acende a paz. Voa até às nuvens de algodão e se apropria da imensidão desse céu que é todo seu.

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