Sóbrio

Sim, eu estou medicado e por esse motivo posso parecer inofensivo pelas próximas seis horas. O meu sorriso amarelo diante das suas palavras tóxicas, que pulam da boca junto com sua saliva ácida, é porque estou refazendo as contas para saber quando é a próxima dose. As pílulas da felicidade me trazem um conforto típico de abraços, desses que a gente esquece de oferecer porque já está quase na hora do ônibus. Não me surpreende que você não tenha perguntado como venho me sentindo, já que sua selfie tem mais curtidas que a anterior. Só um momento, vou ligar para minha terapeuta e descobrir o que fazer quando às 6h da manhã, ele decide que não existe mais amor. Até porque ninguém iria comprar um livro que fala de uma pessoa só...


Eis a razão pela qual eu abri a garrafa de vinho: a coloração deixa minha língua avermelhada e o sangue mais fino, facilitando para correr nas veias quando o efeito do álcool passar. Que tal lamber a ponta dos meus dedos amarelados de fumar até a piteira? Devo entrar em um bar e fazer novas amizades ou continuar escrevendo no meu diário? Eu sei, estamos todos muito ocupados com o nosso umbigo, a esquina pode ser um lugar muito perigoso quando o ego insiste em ir na frente. Consegue me escutar chamando seu nome ou só quando o seu celular tocar aparecendo minha foto?

Não, eu não vou parar por aqui. Eu sigo sorrindo e com um brilho no rosto como um dia ensolarado. Existe aqui um homem, um bruxo, um anfitrião e um vilão, escolha o que quiser. Mas ande logo, vá depressa, o meu universo tende a desprezar quem não sabe o que quer. Caminho na faixa amarela, entre os carros que vem e vão, os farois piscam sinalizando que eu deveria ir para a calçada, mal sabem os motoristas que já estou nas nuvens. Mal sabem os transeuntes que o caminho para o inferno é pavimentado com boas intenções.

Um copo d'água, por favor! Já se passaram as seis horas...

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