Não é o que você está pensando

Descendo a rua, cumprimento a senhora que mora na casa da esquina enquanto ela rega seu quintal de grama sintética. Olho pra casa amarela e noto na janela a cortina colorida e cheia de bordados, que esconde o casal que briga no quarto. Entro no táxi e ouço no rádio uma música que tem no refrão o silêncio que o autor carrega no coração. Enquanto a chuva cai com toda sua força, alguns se escondem nas marquises e eu caminho reto enquanto a água encharca minha capa de plástico. Do outro lado da calçada tem um restaurante vegano que não recicla o seu lixo e atrai pessoas com pérolas no pescoço.

Na cidade que abriga tantas pessoas, que poderiam voar feito plumas de tão leves por ser tão vazias. Retribuo o sorriso para a moça que acabou de sair do dentista, antes que ela atravesse a rua ao encontro daquele amor que a fere. Lá está a criança correndo atrás dos pombos na praça, com os pés descalços e os cabelos soltos, enquanto sua mãe vende balas no semáforo. Ele está com as vistas cansadas, além da miopia faz o exercício de achar o bom onde só se vê escuridão. Se tivéssemos a consciência de que precisamos daquilo que somos e não o que parecemos.

Meu bem, não adianta estar em dezembro achando que foi mais feliz em abril. Deixar a garrafa de refrigerante sem tampa, é certeza de perder o gás. Serão litros de gasolina, quilômetros corridos, estradas sem nome, terrenos desconhecidos. Fica mais difícil andar sobre a terra molhada com pés de pato, não dizer a verdade para o Outro é tarefa fácil: o que machuca de verdade é mentir para si mesmo. Se você seguisse seu coração, para onde você iria?